terça-feira, 7 de abril de 2015

Detalhes das operações pré e pós voo

Todos que gostam de aviação vão aos aeroportos para admirar as aeronaves e registrá-las com suas câmeras fotográficas, ou até mesmo com aparelhos de telefone celular, ou tablets. Atrás do vidro de um terraço panorâmico de aeroporto o tempo parece não ter importância.
   Os aficionados ali ficam por horas, observando as aeronaves que fazem o mesmo procedimento sempre, mas cada matrícula é um caso especial, em uma ocasião diferente. No rosto das crianças o fascínio se mistura à emoção, cujas reações vão desde um silêncio enigmático, ao saltitar batendo as mãozinhas iluminadas por sorrisos largos e francos.
   Isso sem mencionar os Spotters que fotografam cada avião como se fosse o único, mesmo que já o tenham registrado em outra ocasião.
Terraço panorâmico do Aeroporto Internacional Tancredo Neves em 2006, já reduzido em relação ao projeto original, quando não haviam vidros- Foto: www.skyscrapercity.com

O mesmo terraço nos dias atuais, ainda mais reduzido, infelizmente.

A cada chegada de uma aeronave ilumina-se o olhar das pessoas que aguardam um parente ou amigo. Frases como "esse é o avião dela"; "filhinho, o papai está naquele avião"; "o avião da mamãe chegou", podem ser ouvidas e transmitem a transparente emoção dessas pessoas.
É sempre muito interessante a aproximação do avião no "gate".

Todavia, alguns detalhes passam despercebidos, ou pouco notados. A cada chegada de uma aeronave é como se alguém disparasse o "start" de uma máquina, para que realize sincronizadamente diferentes tarefas; distintas ações, que tornam a aviação ainda mais interessante mesmo em solo.
   Antes mesmo da sua chegada ao "gate", ou na posição remota, um time de profissionais treinados já se coloca a postos para receber a aeronave, e executar em tempo hábil, os procedimentos de desembarque e embarque de novo voo.
    A primeira ação é feita pelo balizador, que orienta o comandante da aeronave para que a mesma seja manobrada no espaço correto e pare na marca indicada para cada modelo, a ponto de receber a ponte móvel do "gate", ou as escadas na posição remota.
É função do balizador orientar o comandante na parada do local correto.

As marcas no solo definem quais modelos de aeronaves devem parar naquele ponto.

Tão logo a aeronave se imobilize e tenha os motores desligados, os funcionários da equipe de solo colocam calços à frente e atrás das rodas do trem de pouso.
Colocação do calço no trem dianteiro

Também são colocados cones de sinalização delimitando uma área de segurança em torno ao avião, prevenindo acidentes com passageiros e até mesmo com o pessoal de solo.
Um cone em cada extremidade de asa, um à frente de cada motor e outro atrás da cauda

Os cones indicam a área desaconselhada para a aproximação de pessoas

Só após tais cuidados as portas da aeronave serão abertas e outras providências serão tomadas para o término daquele voo e a imediata preparação da aeronave para a próxima decolagem rumo a outro destino.
   E tais providências acontecem sequencialmente, iniciando-se com a turma da limpeza que entra na aeronave pela porta traseira esquerda, antes mesmo da total evacuação de passageiros.
O mesmo trabalhador de solo, que colocou os cones, coloca a escada para a "turma da limpeza"

Quase ao mesmo tempo chega o caminhão de Catering, na porta do lado oposto, para retirar da aeronave os boxes do voo recém chegado e colocar outros já reabastecidos para o voo seguinte. Esse caminhão é dotado de um sistema que eleva a carroceria ao nível do piso interno do avião, possibilitando fácil manuseio dos boxes com os alimentos e insumos a serem servidos.
A carroceria do caminhão se eleva através de uma estrutura hidráulica em "X".

Em seguida os carrinhos de bagagem são trazidos para a condução das malas às esteiras giratórias do Terminal. Os carrinhos, rebocados por tratores, são colocados à frente de ambos os bagageiros das aeronaves.
Os carrinhos conduzem as malas até à esteira rotativa do Terminal. As imagens acima são do Aeroporto Carlos Drumond de Andrade - SBBH/PLU - créditos nas fotos.

Nos grandes aeroportos cada "gate" conta com uma esteira própria.

Quanto maior a aeronave maior o número de carros de bagagem por avião.

Após estas providências iniciais, outra equipe já está a postos para o abastecimento. Em aeroportos menores, como o da Pampulha, é feito com caminhões tanque. No caso de aeroportos maiores, como o de Confins, existem os "querodutos" com pontos de acoplamento de mangueiras apropriadas em cada posição de "finger". Neste caso, caminhões, com um equipamento específico, fazem o trabalho de bombear o combustível para o avião.
A mangueira de sucção é acoplada ao duto...

...e a mangueira de bombeamento é acoplada à aeronave para o abastecimento.

O esgotamento sanitário é outro detalhe pouco notado e indispensável ao bem estar de passageiros e tripulação. Isso é feito através de um equipamento próprio para descarte em local apropriado. Algumas companhias aéreas têm o seu próprio equipamento e outras contratam empresas de apoio em solo.
A Swissport é uma das empresas de apoio em solo que presta também esse serviço. O funcionário se paramenta, com roupa e máscara específicas (EPI), evitando qualquer contato.

Após a acoplagem da mangueira do equipamento os dejetos são drenados.

A troca de tripulação também é um momento interessante embora possa parecer corriqueiro e tão normal. Quando temos a oportunidade de ver o semblante desses profissionais, é possível sentir a sensação de dever cumprido daqueles que finalizaram mais um voo, e a expectativa nos gestos apressados dos que vão assumir a aeronave. A estes últimos cabe embarcar antes dos passageiros e, rapidamente, acomodar pertences e organizar para que tudo esteja impecável ao recebê-los. Quando a aeronave está no "finger", o acesso é feito pela escada da ponte de embarque, através do pátio. Quando em posição remota são transportados por um veículo da cia. aérea.
Comandante e Có-piloto Gol após mais um voo, e tripulação Azul assumindo em outro "gate".

Tudo conferido, passageiros acomodados, portas fechadas, a ponte é afastada e dá-se então início a outro voo, a outra jornada. É momento do "pushback", quando um trator empurra a aeronave, levando-a ao ponto de partida por seus próprios meios.
   No Aeroporto Internacional Tancredo Neves (CNF), um desses tratores é operado por uma mulher. Flávia Rodrigues é funcionária da Pró Voo, admirada e respeitada não só pelas tripulações, mas também por todos que a veem manobrando os aviões e, mais ainda, pelos spotters que não se cansam de registrá-la em suas imagens.
O Aviação Hoje Notícias rende sua admiração a esta mulher guerreira, profissional de fibra, e, na sua pessoa, saúda todas as guerreiras que a cada dia vêm ocupando seu lugar na sociedade, de igual para igual, nada devendo aos homens nas mais diversas atividades.

Durante o pushback há a necessidade de comunicação entre o comandante da aeronave e a equipe de solo, desde o início desta operação. Para esta comunicação o funcionário conecta um cabo de fonia em um compartimento externo da aeronave, e este funcionário caminha ao lado do trator até que o push seja finalizado.
Após o trator terminar sua tarefa, o trabalhador de solo desconecta o cabo, fecha a porta do compartimento, se afasta e acena ao Comandante, sinalizando a partida.

Um simples papel, ao sabor do vento, é um "corpo estranho" ao sítio aeroportuário, pois pode ser aspirado por um motor de aeronave e causar, desde um atraso no voo, até um problema técnico.
Trabalhadores de solo rapidamente sanam o problema.

Com um pouco de sorte também é possível registrar um treinamento da equipe de crise que acontece periodicamente nos aeroportos. Os veículos especiais de combate a incêndio, e outras situações de crise, percorrem a pista em simulação de ocorrências que rogamos à Deus jamais aconteçam.
Os veículos se dirigem rapidamente aos setores remotos do sítio aeroportuário.

A partida de cada aeronave é outro momento de emoções diferentes. Uma lágrima ou outra é visível nos rostos de algumas pessoas e a exclamação, "Deus te acompanhe e proteja", é ouvida como uma prece. Enfim, o terraço do aeroporto é um local que mostra reações e emoções; que se presta também a um lazer diferenciado para aqueles que gostam da aviação, ou sonham em um dia fazer parte dela.
Este ângulo mostra aeronaves se dirigindo para decolagem na pista 34 de CNF.

E mais um avião decola levando pessoas e seus sonhos.

Os olhos acompanham a aeronave até sumir na imensidão do céu, às vezes com o seu azul comprometido pelas nuvens. Apenas após ver o avião desaparecer no horizonte, as pessoas que têm parentes ou amigos no voo deixam o terraço.
Depois de adquirir determinada altura, após decolar da cabeceira 16 de CNF, o piloto inicia uma curva à esquerda obedecendo a saída padrão para alcançar a proa de GRU, VCP, CGH...


Ilustrando a matéria: com um pouquinho de sorte no terraço de um aeroporto, também é possível fazer um registro como este abaixo, quando a natureza proporciona um espetáculo só seu, levando a chuva para o outro lado e abrindo uma janela na camada de nuvens, permitindo ao sol iluminar o pátio do aeroporto e dourar o piso com as nuances do ocaso, fazendo a alegria do fotógrafo que vê a cena como se fora um presente.
CS-TOD, A-340, batizado de Dom Francisco de Almeida, cumprindo LIS/CNF em 19/10/2014


Esta matéria simples não tem pretensão de conteúdo técnico, mas o desejo de compartilhar detalhes pouco notados e, ao mesmo tempo, a intenção de homenagear a todos os profissionais que fazem acontecer a vida aeroportuária, desde aquele que zela pela limpeza do piso no terminal, ao controlador de voo, o nosso reconhecimento pelo indispensável trabalho de cada um.