terça-feira, 18 de agosto de 2015

Visita ao Centro de Manutenção da GOL em CNF

   Se um hangar já chama a atenção de quem gosta da aviação, um centro de manutenção provoca uma curiosidade que chega próximo do fascínio.
  O Centro de Manutenção da GOL, localizado no Aeroporto Internacional Tancredo Neves (CNF), sempre é alvo de curiosos olhares desejosos em "desvendá-lo", pois a complexidade que envolve a manutenção e conservação de aeronaves, é algo simplesmente envolvente pelo nível de acerto que a segurança de voo exige.



   Existem vídeos e várias reportagens na internet sobre o CEMAN, mas agendamos uma visita para produzir uma matéria com o nosso olhar; com a visão que mistura prazer, expectativa, sede de conhecimento e a natural curiosidade do jovem (de qualquer idade) aficionado por aviação. 
        Chegamos ao hangar antes do horário planejado, uma vez que teríamos de passar pela portaria onde checariam a lista com os nomes e documentos. Fomos conduzidos a uma pequena sala junto à portaria, enquanto a segurança conferia os documentos. Após curta espera fomos liberados a entrar e nos dirigimos à recepção onde recebemos crachás e a liberação para a visita.
    Fizemos o cadastro as 8:50 e aguardamos até 9:10 para que nossa entrada fosse liberada com o acompanhamento de Karine Freitas (nossa guia na visita). Fomos então conduzidos a uma sala de instrução onde foram exibidos dois vídeos, com 10 minutos de duração, mostrando a construção dos hangares.

      De acordo com o vídeo, o CEMAN (Centro de manutenção) foi construído em 8 meses e ocupa uma área total de 47.000m². O pátio pode receber até 4 aeronaves simultaneamente. Com a construção do CEMAN em CNF foram gerados muitos empregos e visibilidade para a região. O hangar 1 é capaz de receber 3 aeronaves 737-800 simultaneamente, já no hangar 2 onde é feita a pintura, cabe apenas 1 aeronave por vez e o hangar 3, último construído, recebe até quatro aeronaves.

Hangar 1

   Após o vídeo nos dirigimos ao hangar 1, onde iniciamos nossa visita. Para o acesso é necessário passar por um raio-x semelhante ao de embarque em aeroportos. Assim que todo o grupo passou pelo pórtico, nos dirigimos à entrada do hangar onde os olhos de todos brilharam ao ver duas aeronaves em manutenção: o PR-GGO (B737-800) e o PR-GED (B737-700), ambas fazendo manutenções preventivas, nas quais tudo que for necessário é retirado e revisado de acordo com os manuais da Boeing.
   Nos dirigimos a uma sala integrada ao hangar 1 onde são feitas as manutenções das peças de materiais compostos. Na sala haviam dois "radomes" de 737 sendo reparados. Gabriel, o especialista da área, nos deu uma pequena aula de como são feitas as peças de materiais compostos, mostrando alguns exemplos de quais partes da aeronave são feitas com cada material apresentado, como o radome e o piso da cabine de passageiros. Ele nos explicou também que a Gol foi homologada pela Boeing a fazer uma lente composta, em reparos temporários, para que não haja necessidade de cancelamento de voos e remanejamento de passageiros.

   Ainda no hangar 1, conhecemos a Ferramentaria onde estão todas as ferramentas disponíveis aos mecânicos para a realização da manutenção em cada aeronave. Foi explicado que para a retirada de uma ferramenta o mecânico responsável deve ir ao balcão e registrar o seu nome, qual a aeronave onde utilizará a ferramenta, a "identidade" da ferramenta e a CIF (que é a sua matrícula na Empresa). Além disso a Gol conta com um sistema denominado de "Sistema AMOS" que localiza a ferramenta através do seu PN (Patch number). Na sala de ferramentas algumas realmente chamam a atenção pela sua utilidade, como o boroscópio que através de seu sistema super avançado consegue filmar tudo o que acontece no motor e apontar algum problema. Uma curiosidade são as balanças que pesam a aeronave. Cada uma delas é colocada embaixo de cada pneu da aeronave e através disso chega-se ao peso total. Outra curiosidade: o B737-800 (PR-GUO), aeronave com pintura especial feita pelos "Os Gemeos" para a copa de 2014, recebeu 250 kg de tinta.
PR-GUO    Foto do parceiro @bhz_spotter

   Seguindo com a visita fomos ao encontro de Rodrigo, técnico em manutenção. Ele explicou que as manutenções são feitas de forma "direta" com o foco específico do que fazer. Segundo informou, a PCS gera um documento para a equipe de manutenção explicitando o que deve ser reparado em determinada aeronave. Toda a manutenção é feita seguindo o padrão do manual da Boeing e após concluída, é gerado um registro no "My Boeing" onde constam todos e quaisquer reparos feitos na aeronave.

Hangar 2

   Através de corredores fomos ao hangar 2, onde a aeronave PR-GTN estava sendo preparada para receber a nova identidade visual da companhia.
  É impressionante o sistema de ventilação e exaustão de pó de tinta. Através de gigantescos tubos, o ar é renovado e todo aquele pó, que poderia ser prejudicial a saúde, é retirado do hangar, fazendo assim com que seja um local seguro para se trabalhar.
Foto por : http://www.ajanelalaranja.com/

Rodas e Freios

   Para entrarmos na área de Rodas e Freios foi necessário a utilização de protetores auriculares devido ao volume do som que pode afetar a audição. Logo que entramos fomos dirigidos a uma sala onde conhecemos Willian, inspetor de NDT (ensaio não destrutivo). Ele nos explicou que a Gol trabalha com duas marcas de rodas: a Honeywell e a Messier. São rodas bipartidas que utilizam-se de 18 parafusos para fixação. Willian disse que no setor as rodas são desmontadas, limpas e levadas para inspeção de qualidade na qual são testadas por vários aparelhos para detecção de algum arranhão ou trinca que poderia comprometer a utilização.
  Notamos que este setor testa o equipamento, de várias maneiras possíveis, para que não apresente falha alguma durante sua utilização. Nos testes de qualidade as rodas passam por ultrassom e até banho de líquido penetrante que, ao ser exposto à luz negra, indicará se há alguma trinca ou arranhão.
Sistema de freio com múltiplos discos - Foto por: Aeroflap

  Ainda na área de rodas e freios conhecemos Rodrigo, que nos trouxe mais informações sobre o setor. Cada roda da aeronave possui uma válvula de alívio de pressão: se o sensor detectar uma pressão superior a 200 PSI a válvula entra em ação liberando nitrogênio para que a pressão se estabilize. De acordo com Rodrigo a Gol tem a política de após apenas 5 recapagens dos pneus, esses são descartados e novos são inseridos na operação. Vimos também a diferença entre os freios padrão de liga e os novos freios de carbono que a Gol está usando em suas aeronaves. Esses novos freios permitem uma frenagem maior, com menos geração de calor e com uma durabilidade bem maior. (freio da foto acima).
Freio padrão de liga.

Hangar 3

  Seguindo na visita fomos ao hangar 3 onde apenas o PR-GTO estava em manutenção. Já no horário de almoço o hangar se encontrava sem movimento. Visitamos as salas que compõe o hangar 3, passando primeiramente área de lavagem das peças onde todos os tipos de peças, que compõe a aeronave e possam ser lavadas, são limpas e deixadas como novas.
  Em seguida passamos pela área de lixamento de peças que é composta por três estufas onde as peças, após o lixamento, são deixadas em repouso. Ao lado existe a área de pintura de peças e rodas. Primeiramente o componente recebe o "primer". Após 6 horas recebe a pintura em 3 passos: 1°-pintura, 2°-descanso e 3°- sauna. Nesse último as peças ficam repousando para que todo o processo de pintura se junte corretamente à peça.
Foto meramente ilustrativa do Hangar3

Janelas e Estofados

  Fomos dirigidos por Karina à área de recuperação das janelas das aeronaves, que são feitas de acrílico e chegam ao setor normalmente cheias de arranhões e manchas. Uma equipe lixa a peça durante 3 a 4 horas para recuperar uma única janela e o resultado é espetacular, uma vez que ela volta a ser praticamente nova. Mas não é simplesmente receber a janela e fazer o reparo, antes de cada reparo é analisada a espessura da janela a ser reparada. Se estiver muito fina será descartada pois o reparo não é possível.
Janela após receber o tratamento de recuperação

  Durante a visita neste setor Karina nos explicou que a Gol recebeu várias homologações para fabricar pequenas peças internas, como mesinhas, persianas e apoios de braço, dentre vários outros componentes. Para termos uma ideia do que isso significa, ela citou o exemplo das persianas das janelas: antes de a Empresa ser homologada, era obrigada a comprar cada uma por U$295 diretamente da Boeing. Após iniciar a fabricação própria o custo baixou para U$25 por janela, uma diferença gritante.
    Seguindo no setor, fomos dar uma olhada nas poltronas que compõe o interior das aeronaves da Gol. Algo que chamou a atenção de todos foi a informação de que uma das coisas que mais causa prejuízo em relação aos assentos, é o mau hábito de alguns passageiros em colar o chiclete mascado nas poltronas. Isso gera uma dificuldade imensa na recuperação de assentos uma vez que o chiclete seca aderindo ao tecido ou à estrutura, ficando difícil de ser removido.

  Outro ponto que nos chamou a atenção foram as poltronas dos pilotos que passam por manutenção no mesmo setor. Estas são feitas com detalhes em lã de carneiro para atenuar os efeitos da fadiga e inúmeros pequenos dispositivos necessários ao seu funcionamento. Cada poltrona custa U$25,000.00. Um valor bem alto, mas de conforto e qualidade notáveis ao olhar.

Cockpit Boeing 737-800 (destaque das poltronas) 

  Após conhecer todos os departamentos permitidos, visitamos então o auditório do CEMAN, com capacidade para 180 pessoas e totalmente construído com material reciclado. Do tapete às poltronas, tudo com validade expirada para uso em aeronaves tem uma sobrevida neste auditório, exemplificando bem a preocupação da GOL com a sustentabilidade.

Fim da visita
   Ao término da visita fomos guiados até uma pequena sala próxima à recepção, onde cada um preencheu um pequeno formulário avaliando um pouco da visita que fizemos. O resultado entre nós foi unânime, pois  todos amaram a visita e a forma pela qual fomos guiados. Muitas dúvidas foram sanadas e todos aprendemos muito com essa visita, como detalhes que nem imaginávamos e que são realizados no CEMAN da Gol.
  A equipe do AVHoje e Planespotter BH agradece a todos os envolvidos em nossa visita ao CEMAN, nos guiando e transferindo conhecimento pelos corredores e hangares, como também à Empresa por realizar este sonho de todos em conhecer o Centro de Manutenção.

Equipe do AVHoje e Planespotter BH após a visita.