quarta-feira, 23 de setembro de 2015

ANEQUIM: O AVIÃO QUE PULVERIZOU RECORDES!



   Após os vitoriosos projetos CEA 308 e CEA 309 (Mehari), o ANEQUIM, mais um projeto dos alunos do Centro de Estudos Aeronáuticos da UFMG, liderados pelo Professor Paulo Iscold, levou Minas Gerais ao cenário internacional da aviação, ao quebrar cinco recordes mundiais no mês de agosto. O fato teve grande repercussão em todo o mundo, sendo divulgado por várias mídias especializadas em várias partes do planeta.

   Mas antes de falar do Anequim vamos apresentar os dois primeiros sucessos dos alunos de Engenharia Aeronáutica da UFMG, liderados por Iscold.
   O CEA 308 foi o primeiro a bater recordes mundiais até então existentes. Com apenas 195 quilos, comprimento de 6,1m, envergadura de 5,7m e um motor convencional, o desenho do protótipo foi construído por meio de um software criado por Paulo Iscold na própria universidade, ainda como aluno. 

   Construído com materiais compostos e madeira, o CEA 308 é um avião conceito que, para a quebra de recordes, se enquadra na categoria C1A0, destinada, segundo a Fédération Aéronautique Internationale, a modelos com motor a pistão, hélice e peso total de decolagem –incluindo gasolina, piloto e equipamentos de segurança– inferior a 300 quilos.
Recordes batidos pelo CEA 308 pilotado por Gúnar Armin Halboth (ex-Varig e campeão brasileiro de acrobacia aérea):
> velocidade de 329km/h em voo de 15 quilômetros (anterior era de 292km/h);
> velocidade de 326km/h em voo de 100 quilômetros (anterior 297km/h);
> tempo de subida até três mil metros entre nove e dez minutos, batendo os treze minutos e 40 segundos do recorde anterior;
> velocidade de 360km/h em voo de 3 quilômetros, ultrapassando a marca de 351km/h, que pertencia a uma aeronave austríaca.

   Outro projeto vencedor foi o CEA 309 Mehari, que voou pela primeira vez em outubro de 2009, cuja característica é completamente diferente do CEA 308, ou seja, o Mehari é uma aeronave de acrobacia. No seu primeiro voo o avião atingiu eficiência igual aos similares russos e alemães, porém com custos de operação e de fabricação bem menores.
   Com o desafio de reduzir custos, Paulo Iscold projetou um avião menor, mais leve, com motor também menor (4 cilindros), mas com o mesmo desempenho dos estrangeiros. Para isso foram desenvolvidos materiais inovadores como o aço cromolibdênio e madeira freijó, madeira esta de peso médio, baixa retratibilidade e média resistência mecânica. Como resultado o Mehari consome 50% menos combustível que os concorrentes.
  Todavia essa aeronave foi um projeto de extensão e, não, de pesquisa da UFMG, como os anteriores.
  O projeto e construção foram financiados na maior parte pelo piloto Marcos Geraldi e por empresas privadas nacionais e estrangeiras. Por sua versatilidade e dimensões, o CEA 309 está na chamada "Classe Ilimitada", a categoria mais elevada das competições de acrobacias aéreas.


CEA 311 ANEQUIM
  Registrados os projetos anteriores de Paulo Iscoldi, vamos finalmente apresentar o Anequim, esse avião que "pulverizou" cinco recordes para aeronaves de sua categoria.
   Fomos ver o pássaro em seu ninho; sentir ainda o clima de justa empolgação; respirar a invisível poeira do sucesso alcançado e ver de perto esse bólido aéreo cujo batismo foi inspirado em uma espécie de tubarão veloz, encontrado em toda a costa brasileira.


   O Anequim consumiu mais de quatro anos de trabalho com cerca de 30 alunos envolvidos no projeto, que não teve lei de incentivo ou qualquer outra verba federal. O principal financiador foi o seu piloto Gúnar Armin Haltoth, que não revela o valor investido.
  Era o ano de 2011 e Gúnar Armin Halboth conta que estava a trabalho em St. Maarten, quando recebeu um e-mail de Paulo Iscold com o desenho de um novo projeto e a desafiadora pergunta: "O que você acha disto? Dá para encarar?"
  Cumpre esclarecer que, para engenheiros e pilotos, a palavra projeto é sinônimo de sonho; de desejo, e, principalmente, de realização.

   Desnecessário dizer que foi aceito o desafio de construir uma aeronave leve, de enorme rigidez e com uma aerodinâmica altamente eficiente para atingir velocidade similar a de um jato executivo. 
   Não teríamos como mostrar o "passo-a-passo" da montagem do Anequim, mas mostraremos alguns detalhes do projeto.


   Peça por peça o Anequim "brotou" das formas em MDF, construídas pelos alunos envolvidos, através de máquinas e muito trabalho manual, como ocorreu também com o antecessor nesta categoria, o CEA 308.





   O Anequim foi equipado com um motor Lycoming de quatro cilindros, que passou por modificações na Empresa Sky Dynamics, Estados Unidos, sob orientação da equipe UFMG.


   



   Avião pronto, é hora de seguir e cumprir a finalidade para a qual foi sonhado, idealizado, projetado e construído.

   Gúnar Armin Halboth assume o cockpit dimensionado para ele. Gúnar precisou fazer um regime adequando seu peso às exigências do regulamento que rege as tentativas de recordes.

   Ao lado de um Christen Eagle II é possível entender a aerodinâmica do Anequim, idealizada para altas velocidades.

   Em abril deste ano o Anequim começou o período dos voos de experiência na cidade de Divinópolis. Foram dias de muito trabalho e muitas horas de voo, antes de seguir viagem para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde fez os voos que estabeleceram novos recordes mundiais.
   Já na Base Aérea de Santa Cruz, à frente do hangar do Zepelin, na preparação para o grande feito. No dia 22 de agosto aconteceu o primeiro recorde mundial.




SEGUNDA VISITA AO CEA
  A Equipe do Aviação Hoje Notícias voltou a visitar o Centro de Estudos Aeronáuticos no dia 18 de setembro, acompanhada de Roberto Caiafa (Tecnologia e Defesa) e Reinaldo Neves (Asas Metálicas), para registrar alguns detalhes da aeronave, ainda sobre a carretinha de transporte, da mesma forma como veio de volta após a quebra dos recordes:



   Os pequenos detalhes nas hélices, quase imperceptíveis à média distância, se destinam a corrigir e evitar uma pequena perda de ar no fluxo produzido pelo conjunto de hélices, ajudando na melhoria de performance em voo. Todas as hélices foram desenvolvidas pela empresa norte americana Catto Propellers, sob detalhada orientação da Equipe UFMG.





  Os nossos agradecimentos ao Professor Paulo Iscold que gentilmente nos recebeu no dia 15 de setembro, bem como aos alunos que nos atenderam no dia 18 de setembro, com a habitual cortesia.