terça-feira, 2 de junho de 2015

ANJOS DA GUARDA

   O sítio aeroportuário é um local que suscita muita curiosidade nas pessoas, principalmente àquelas apaixonadas por aviação. Tais pessoas, se pudessem, visitariam o aeroporto em todos os dias e, a cada visita, se comportariam como se fora a primeira vez.
    O dia a dia de um aeródromo é instigante não só pela atividade, mas também pelas normativas e regras de segurança indispensáveis à vida aeronáutica, melhor entendidas quando se vive alguma experiência em área privada.
   O nosso Blog entrou em contato com a Infraero, no Aeroporto Carlos Drumond de Andrade, solicitando uma visita à área interna de PLU, com a finalidade de vivenciar um pouquinho daquele oxigênio temperado com o aroma de JET A1 e Avgas, além de ouvir, mais de perto, o som dos motores que ecoam como música aos ouvidos dos aficionados pela aviação.
   Todavia, algo sempre passeia pela imaginação: como é a organização da brigada de crise; o Corpo de Bombeiros de Aeroporto.
   

  O Superintendente do Aeroporto, Sr. Mário Jorge Fernandes de Oliveira, compreendeu a nossa argumentação e mostrou-se sensível ao pedido, encarregando o Supervisor Pedro Paulo para cuidar dos trâmites burocráticos, o que foi feito com muito profissionalismo e receptividade.
    Feitos os contatos e atendidas as medidas de praxe, a visita foi marcada para o dia 30 de maio às 14h.
   Às 13h30min da tarde ensolarada de sábado, todos já se encontravam reunidos na Varanda Panorâmica, com exceção de Rodolpho Ferreira, que só chegou no último minuto da tolerância.
   Às 14h10min fomos então conduzidos ao acesso de funcionários e tripulantes, passando pelo mesmo processo de raio-x e detector de metais, procedimento padrão em todos os aeroportos do mundo.
   Vencida esta etapa, embarcamos em um ônibus da Infraero para um passeio de observação dos hangares do pátio sul, em baixa velocidade, proporcionando a visão de muitas das aeronaves que povoam os nossos sonhos, até próximo ao último hangar da Líder Aviação. Retornamos em direção ao hangar dos Bombeiros da Infraero, onde desembarcamos para uma visita técnica.

Amplo pátio e hangar dos Bombeiros da Infraero

   Fomos gentilmente recebidos por Paulo César Trindade, Líder da Equipe Delta. Após as apresentações, Trindade nos conduziu à sala de reuniões para uma dissertação sobre o trabalho do bombeiro de aeródromo, um pouco diferente do bombeiro urbano.
   O Grupamento de Bombeiros do Aeroporto da Pampulha conta com cinco equipes, compostas por dez elementos cada uma. Diferente do Corpo de Bombeiros Militar, as equipes de SBBH são contratadas pela Infraero e seguem as legislações brasileira e internacional, além de adotarem o padrão ICAO (International Civil Aviation Organization).

   Inicialmente vimos o vídeo de uma simulação de acidente no Aeroporto de Confins, com imagens do trabalho integrado entre os bombeiros de aeroporto, bombeiros urbanos, equipes do SAMU, Aeromédicos e voluntários treinados e sempre acionados em situações de crise.

Impressionante vídeo de uma simulação de acidente aéreo

   Após a exibição do vídeo, o Líder Trindade, o Bombeiro Bispo e outros integrantes da Equipe falaram de especificidades, treinamentos constantes e das reuniões nas quais são tratadas dúvidas e acontecimentos, inclusive de outros aeroportos, que propiciam aprendizado e experiência na tomada de decisões, que deve acontecer em curto espaço de tempo. Aliás, o "tempo de resposta", é determinante no resultado positivo das ações de salvamento das vítimas.
E esse "tempo de resposta" significa apenas três minutos, ou seja, após o soar do alarme a Equipe deve chegar ao local de crise no prazo de três minutos.

Após o alarme a Equipe precisa chegar ao mais remoto local em apenas 3 minutos

   Muitos equipamentos e ferramentas fazem parte dos recursos à disposição dos bombeiros para o trabalho. Desde um enorme ventilador para dispersar a água em forma de névoa e resfriar o ambiente de crise, a equipamentos como motoabrasivo (aparelho com motor de dois tempos que, mediante fricção, produz cortes em materiais metálicos e em alvenaria) e ao desencarcerador (bomba hidráulica acionada por motor à gasolina ou acionamento manual, usado para livrar vítimas presas à ferragens).

Ventilador dispersor, motoabrasivo e desencarcerador

Os caminhões utilizados pelos bombeiros de aeroporto tem acessórios específicos para operar jatos de água e espuma. Essa espuma, produzida por um LGE (líquido gerador de espuma), tem como função resfriar e "abafar" o combustível, prevenindo o contato com o oxigênio, resultando na supressão da combustão. Os caminhões do Aeroporto da Pampulha tem capacidade para 6000 litros de água e 720 litros de LGE.  

Um dos caminhões da frota, oriundo de CGH

Após uma verdadeira aula sobre as ações, do esclarecimento de dúvidas e respostas às perguntas de integrantes do Grupo, fomos conduzidos para conhecer as dependências do hangar, alguns equipamentos e ferramentas, além do EPI-Equipamento de Proteção Individual que o bombeiro deve usar em ação.

O EPI foi vestido pelo Bispo para demonstração

   Três caminhões específicos fazem parte da frota de SBBH. Todos os veículos são colocados em funcionamento e os equipamentos testados três vezes ao dia, assegurando o imediato funcionamento em caso de necessidade.
A Equipe Delta fez um desses testes durante a nossa visita, proporcionando um momento de rara satisfação ao ver, bem de perto, algo que às vezes é visto através de vídeo quando dois veículos promovem o "batismo de aeronave". Um dos veículos foi colocado em funcionamento e acionados os dispositivos superior e inferior de lançamento de água.

O dispositivo inferior em funcionamento

O dispositivo superior lança um jato mais generoso de água

A Equipe Delta nos presenteou com a demonstração/teste e a natureza com o arco íris que se formou no pátio à nossa frente, para a alegria de todos que portavam câmeras fotográficas.

Após a demonstração/teste o tanque é recarregado imediatamente. O veículo da foto é originário do Aeroporto de Congonhas. Isso se deve ao fato de a Infraero ser uma Empresa Nacional. Os veículos podem migrar de base de acordo com a necessidade e conveniência.


Equipe Delta (dois estão ausentes por não poderem abandonar seus postos)

O solícito motorista que nos conduziu (de colete), a Equipe Delta e o nosso Grupo

   Encerrada a visita e já embarcados no ônibus que nos conduziu de volta, a visão do pátio em frente à Terminal fez os corações pulsarem diferente; pulsar como se, por meros instantes, fizéssemos parte daquele cenário ímpar e sempre visto de longe, cujas ações têm uma sincronia própria, diferente da vida acelerada e exacerbada daqui de fora.

   
   A frase "melhor visita que fizemos" foi unânime. Todavia, destacamos a impressão espontaneamente manifestada por alguns dos integrantes:

   Anselmo Henrique (Universitário de Ciências Aeronáuticas) se impressionou com "a necessidade de eles estarem sempre se atualizando através de reuniões e debates com outras equipes e setores, tanto dentro quanto fora do aeroporto, buscando um único resultado que é o de salvar vidas".

   Gabriel Araújo (16 anos) impressionou-se com os bombeiros "por serem muito atenciosos e receptivos até no momento de exemplificar, como fez o Bispo, se dispondo a vestir o equipamento de EPI".

   Henrique Celso (16 anos) se mostrou satisfeito em constatar "que  os nossos bombeiros não estão atrás dos de outros países em relação à avançada tecnologia".

    Jean Augusto (15 anos), entre outros comentários, ressaltou a "receptividade e a liberdade de poder entrar dentro da cabine de um dos caminhões para conhecer os instrumentos de bordo".

  Mário Carvalho (16 anos) considerou "um privilégio a recepção dos funcionários da Infraero e a demonstração/teste dos Bombeiros".

     Rodrigo Pace (16 anos) "foi fantástico".


Considerações finais:
só podem ser os agradecimentos à Infraero e à Equipe Delta dos Bombeiros, por terem proporcionado não uma visita, mas uma experiência de conhecimento, disciplina e visão de trabalho em equipe, que seguramente contribui para a formação de cidadãos.