O Aeroporto Carlos Prates foi criado em janeiro de 1944 a fim de atender ao Aeroclube de Minas Gerais, fundado em 6 de novembro de 1936 e que funcionava no Aeroporto da Pampulha até então, cuja finalidade era formar quadros para a Aviação Civil e Militar.
O aeroporto foi construído em terreno da Fazenda São José, de propriedade do Coronel Alípio Ferreira de Mello e Ursulina de Andrade Mello. O casal veio de Perdões, no Centro-Oeste de Minas Gerais, e se instalou na região em 1895 onde adquiriu 200 alqueires de terra, localizados no vale do Córrego da Ressaca, onde hoje se encontram os bairros do Castelo, Alípio de Melo, São José, Jardim Alvorada e Jardim Montanhês.
O Coronel Alípio de Mello era um entusiasta da aviação e cedeu o terreno para atender ao Aeroclube de Minas Gerais com a condicionante, no contrato de cessão, de que a área só se prestasse a este interesse específico. Neste ano de 2016 o Aeroclube completará 80 anos, já tendo formado cerca de 5000 pilotos.
A foto abaixo mostra o aeroporto ainda com pista em terra batida, no ano de 1953. Nesta imagem também é possível constatar que ainda não existia o Anel Rodoviário e nem os bairros à sua direita no sentido Bairro São Francisco/Cidade Industrial.
Já no recorte abaixo nota-se dois hangares do Aeroclube, o da Berg´s Aviation (à época era de outra empresa) e um hangar menor mais abaixo, além de outro próximo da cabeceira 09. Também já existia o Sanatório Minas Gerais (atual Hospital André Cavalcanti), cuja missão era tratar pacientes portadores de tuberculose.
Na imagem seguinte, menos antiga, nota-se o grande adensamento ao redor do Aeroporto. (Acervo Infraero SBPR)
A partir de janeiro de 1974 o Aeroporto passou a ser administrado pela Infraero, quando teve as pistas de taxi ampliadas e pavimentadas, e o terminal de passageiros reformado.
Hoje, além do Aeroclube de Minas Gerais, o Aeroporto conta com mais três escolas de aviação, empresas de manutenção de aeronaves e até uma fábrica de aviões de pequeno porte.
A COBIÇA DOS GOVERNANTES PELA ÁREA DO AEROPORTO
Após algumas décadas de funcionamento, talvez em razão de sua privilegiada localização geográfica, a área do Aeroporto passou a despertar a cobiça dos prefeitos e governadores. Vários projetos, em diferentes épocas, foram anunciados para substituir o aeródromo.
Em 1982 o então prefeito Júlio Laender chegou a se reunir com o Ministro da Aeronáutica, Tenente Brigadeiro do Ar Délio Jardim de Matos, tratando da cessão da área para a Prefeitura da Capital.
A ideia era construir um grande parque de recreação e lazer para a população, que previa a pista ser transformada em uma grande avenida para desfiles carnavalescos; os hangares seriam ginásios, contaria com a criação de campos gramados para o futebol, uma "Cidade das Crianças" além de outras tantas opções e até um submarino, supondo-se um enorme tanque de água. No artigo acima o jornal já denomina a área como "antigo Aeroporto Carlos Prates". Até o Instituto dos Arquitetos do Brasil, Seção Minas Gerais, chegou a discutir uma série de ideias para a "nova área de lazer". Em 23/11/1982 o seu presidente, Maurício Andrés, coordenou um debate entre arquitetos, professores de arquitetura da UFMG, Prefeitura e Plambel, para definir os projetos a serem executados.
OUTRA INVESTIDA EM 2004
No ano de 2004 foi a vez do Governo Estadual cobiçar SBPR. No mês de novembro, do citado ano, a Administração Estadual noticiou que "o projeto do Centro Administrativo do Governo Estadual será montado na área do Aeroporto Carlos Prates", sem considerar que o entorno com suas ruas estreitas e adensadas não comportaria o tráfego e o movimento que o Centro Administrativo traria.
Em 12 de maio de 2005 o Jornal Hoje em Dia publicou a decisão do Governo Estadual de transferir o Carlos Prates para o Aeroporto da Pampulha. O projeto de transferência chegou a ser realizado pela empresa gaúcha Ecoplan Engenharia e custou R$350.000,00. A Empresa estimou em 30 milhões de reais o custo global para a intervenção.
NOVAMENTE A PREFEITURA
É impressionante como as assessorias jurídicas dos governantes não pesquisam os projetos antes de torná-los públicos, a fim de evitar que sejam ridicularizados. Em 2006, em mais uma investida contra o Aeroporto Carlos Prates, a Prefeitura da Capital cogitou levar para sua área um terminal rodoviário. Ainda neste ano um deputado desinformado tentou um Projeto de Lei para desalojar o Aeroporto, mas foi barrado pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa, que pesquisou juridicamente a questão. O recorte abaixo é do Jornal Hoje em Dia datado de 26/04/2006. (Acervo APCBH-Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte).
Em junho de 2010 o Jornal Estado de Minas noticiou, em sua página 23 da edição do dia 22, uma negociação da PBH com a Infraero para construir uma "arena de eventos" cuja capacidade seria de 100 mil pessoas.
Entretanto, todas as investidas se resultaram nulas porque o Coronel Alípio de Mello, já prevendo que a especulação imobiliária colocaria em risco a intenção de seu ato, fez constar no contrato de cessão uma cláusula impedindo a utilização da área para qualquer outra finalidade, ou seja, caso isso venha a ocorrer, a posse do terreno volta a ser da família do doador.
Coronel Alípio de Mello, em nome dos aviadores mineiros nós o agradecemos pela "carta na manga do contrato"!
Fontes de pesquisas:
Arquivo Público da Cidade de Belo
Horizonte
Arquivo Público Mineiro
Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa
Infraero
Museu Abílio Barreto